quinta-feira, 24 de julho de 2008

Um balanço desses últimos meses...

Junho e julho nos deixaram muito focados em encerrar as peças promocionais que produzimos para alavancar a captação de recursos do documentário. Além disso, vem aquele processo bizarro que são as inscrições em leis de incentivo e editais de patrocínio. Há alguma coisa muito errada no formato como essas questões são administradas e é muito importante contar com a ajuda de "especialistas" nas minúcias desses procedimentos, sob pena de você se prejudicar por ser... correto e prático. Mas isso é papo longo. Não é pra agora... Vamos voltando.

Aliás, o site do documentário está quaaaaase pronto. E o nome dele já foi escolhido, hehehe... Já já, a gente conta aqui.

BM

domingo, 30 de março de 2008

O processo e a história

Hoje saímos da filmagem no Sesc Tijuca discutindo, mais uma vez, sobre os rumos do filme. As entrevistas “talking heads”, que fazemos desde dezembro, estão encerrando (guardando e finalizando) a tal primeira fase das gravações. Elas contextualizaram uma história, ditaram o(s) fio(s) da meada para nos guiarmos na segunda etapa.

Querendo ou não, o que fizemos hoje já tinha um quê de “segunda etapa”, de um enquadrar só permitido por conhecimentos pré-captados em horas e horas de mini-dv. Entrevistamos o compositor Moacyr Luz em sua casa, em Santa Teresa, e o levamos de lá para o Sesc, onde era convidado do grupo Batifundo. Deste fazia parte o Pedro Holanda, já filmado por nossas câmeras em uma entrevista e duas ocasiões – no bloco do Carioca da Gema e no concurso de marchinhas da Fundição Progresso.

Às 16h30 o grupo começou a tocar – duas de Noel seguidas de composições próprias, Nelson Cavaquinho e outros dos quais não lembro -, no salão do Sesc, para um público essencialmente de terceira idade. Depois do intervalo, Pedro entoou sua música sobre a Lapa, um pedido do documentarista, e chamou Moacyr.

O encontro entre os músicos é um encontro entre gerações, entre figuras de diferentes segmentos do samba, por assim dizer. Um pouco como reunir o João Martins e Lefê Almeida numa mesa de restaurante; ou flagrar João Cavalcanti, do Casuarina, no Cacique de Ramos... O que temos hoje (pelo menos eu, um câmera, até dezembro totalmente alheio ao assunto) é um outro olhar para momentos como esse. Uma visão impregnada pelo que já vimos e ouvimos, inevitável e interminavelmente. É com essa que vamos.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Avançando


O documentário segue em frente depois de uma breve pausa para folga e reajustes. O plano inicial do Bruno era fazer uma "primeira rodada" de entrevistas, com o máximo de personagens, recolhendo testemunhos e uma contextualização dessa história recente da Lapa. A partir desses dados, definiria uma linha a seguir na "segunda rodada", provavelmente reencontrando entrevistados em contextos diferentes.

Enquanto se viabiliza a continuidade dos trabalhos rumo à etapa final, já temos em mãos mais da metade das entrevistas da tal primeira rodada. O material gravado ultrapassa facilmente 50 horas, o filme vai amadurecendo e pedindo definição de rumos práticos e narrativos. É o desafio, a "loucura inadiável", nas palavras do produtor Leo Feijó, na qual o Bruno se meteu.

No dia 22 entrevistamos Leo Feijó e Daniel Koslinki, no Teatro Odisséia. Três dias antes falamos com Regina Weissmann e Aline Brufato, antiga e atual dona do Comuna do Semente.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Alfredo Galhões no CCC (11/02) e Beco do Rato (12/02)

O Bruno lá no meio da entrevista pediu a câmera na mão. Ficou no quadro o Alfredo meio instável, compondo com um segundo plano-ora fachada do teatro João Caetano, ora um descamisado morador de rua insistindo em dançar para a lente. Lá ao fundo, o portão do mal iluminado Real Gabinete Português de Leitura. Nosso set era um salão no térreo do Centro Cultural Carioca. O áudio denunciava a música no andar de cima, programada pelo entrevistado.

Alfredo Galhões compensa a falta de atrativos noturnos na Praça Tiradentes com uma agenda, bem divulgada, de artistas e repertórios já consagrados. Tem gente que vem aqui há anos ouvir as mesmas músicas. Eles gostam, ele gosta, e nós nos vimos novamente passeando na tensão entre épocas, estilos e histórias de samba em uma Lapa recém-surgida.

Já falamos aqui que o pessoal das casas noturnas tem dos mais interessantes personagens. Alfredo não foge à regra, e para quem falta novidade ele pergunta: o público pede?

Do outro lado, no dia seguinte, fomos ao Beco do Rato, convidados pelo bandolinista João Martins. Fizemos algumas imagens da roda e, a luz sendo pouca, investimos numa entrevista interna com os músicos. Há uma consciência de não estarem no mainstream da Lapa e uma cultivada cumplicidade entre músicos e ativistas do beco. A roda não está no palco, como o que se vê na Mem de Sá e Riachuelo, e isso é motivo de orgulho.

Uma aventura de entrevista, vinte caras pedindo a vez para falar ao Bruno. A câmera de novo na mão.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Sukman, Lefê e Juçá

Hugo Sukman, Lefê Almeida e Maria Juçá foram nossos últimos entrevistados.

O primeiro, autor do livro Heranças do Samba, conversou conosco no Centro de Referência da Música Carioca, na Tijuca. A entrevista se prolongou bastante à espera de sombras, mas aconteceu.

Lefê é testemunha do caso todo, há tempos. Estivemos com ele no restaurante Cosmopolita. Nossa surpresa foi a aparição de João Martins, vinte e poucos anos e músico assíduo do Beco do Rato e do Cacique de Ramos, para ouvir e até conversar diante da câmera com o Lefê. Talvez o melhor improviso até agora...

Antes dele, a Juçá, no seu próprio Circo Voador. Das grandes!

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Breno Carro no Estrela da Lapa

Comparar a Lapa com a Vila Madalena ou mesmo a Bourbon Street aponta para muitas questões com as quais nos deparamos até aqui. Uma delas, a necessidade (ou não) de maior presença do poder público no bairro. Outra, a necessidade ou não de renovação do repertório dos artistas; tensão entre continuidade e ruptura com a tradição que fez a Lapa ser o que é. E mais uma, a certeza de que muito do que se faz artisticamente e acontece no bairro está nas mãos dos donos-de-casas-de-show. Um deles, autor da comparação acima, é Breno Carro, antigo administrador do Mistura Fina que hoje toca o Estrela da Lapa.

A Lapa está letalmente vulnerável a passagem de um tsunami e da febre que hoje faz do seu carnaval o mais interessante da cidade. O futuro do bairro é um mistério para o produtor, que na noite em que nos recebeu variava o cardápio: um grupo de garotos da Tijuca, posterior a geração-foco do documentário, tocava no palco da casa. O risco é claro: há artistas e repertórios bem firmados nas casas da Mem de Sá e adjacências, há uma demanda do público por assistir à Lapa que a Lapa se tornou, e isso talvez ainda não possa mudar. Pode?

Enfim, a empreitada de pessoas como Breno faz dele e dos demais"anfitriões" da Lapa personagens interessantíssimos para o filme. Até porque, e talvez acima de tudo, em geral são bons de papo à beça.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

A tentação maniqueísta

Em qualquer documentário que tenha a música como objeto, quando entra um representante de uma rádio, ele tem que ser o lado mau. A rádio é má. É jabá, é vício, troca de favor, interesses escusos, etc, etc. Como entrevistar, então, a presidente de uma rádio apontada pelos artistas como a única que abriu um espaço para eles, sem ser tendecioso e chapa branca? O que esta pessoa pode acrescentar ao doc? O que justifica esta presença? A rádio precisa ser má ou pode ser boa? Ou pode não ser nada disso e ser apenas mais um personagem desta cadeia produtiva ?

Ariane Carvalho, presidente da MPB FM, nos recebeu e falou por cerca de 25 minutos. Não era a mais fácil das entrevistas. Foi boa, mas não foi a mais fácil das entrevistas. Não pela gentil Ariane, mas sobretudo pelas minhas próprias dúvidas em descobrir como é que aquele papo se relaciona, de fato, com toda essa história e não sucumbir à tentação. É um trabalho que vai continuar na mesa de edição.

Na foto aí de cima nem parece tanto. Mas a luz ficou linda.